Essa semana saiu uma matéria no site Houstonpress escrita por Jef Rouner muito interessante sobre opiniões. Vale a pena dar uma conferida (original):
Não,
não é a sua opinião. Você só está errado.
Eu
tive tantas conversas e troca de e-mails com alunos nos últimos anos
onde eu os deixo furiosos ao indicar que dizer simplesmente “essa é
a minha opinião” não os impede de estarem completamente errados.
Ainda me deixa desconcertado que alguns sentem que essas cinco
palavras, de alguma forma dá a eles carta branca para discursar ou
pregar ideias loucas. E realmente me assusta que alguns desses
estudantes pensam que uma educação que desafia as ideias deles é
equivalente ao um ataque às suas crenças.
-Mick
Cullen
Eu
passo mais tempo discutindo na internet do que pode ser possivelmente
saudável, e a palavra que eu vejo ser usada mais do que qualquer
outra é “opinião”. Opinião, ou pior “crença”, se tornou o
escudo de toda noção mal concebida que vem se esgueirando pela
mídia social.
Existe
uma concepção comum de que uma opinião não pode estar errada. Meu
pai disse isso. Provavelmente o pai de todo mundo disse isso e em
termos mais restritos é verdade. Contudo, antes de você se esconder
atrás do seu Escudo de Opinião, você precisa se perguntar para si
mesmo duas coisas:
1.
Essa é realmente minha opinião?
2.
Se essa é realmente uma opinião, quão bem informada é e por que
eu a tenho?
Eu
te ajudarei com a primeira parte. Uma opinião é uma preferência
para ou um julgamento de algo. Minha cor favorita é preto. Eu acho
que menta tem um gosto horrível. Doctor Who é a melhor série que
existe. Essas são todas opiniões. Elas podem ser únicas para mim
apenas ou podem ser maciçamente compartilhada entre a população em
geral, mas todas elas têm algo em comum: elas não podem ser
verificadas fora o fato de que eu acredito nelas.
Não
há nada de errado em ter opiniões nesses assuntos. O problema é
quando a opinião das pessoas são, na verdade, equívocos. Se você
pensa que vacinas podem causar autismo você está expressando algo
factualmente errado, não uma opinião. O fato de que você ainda
acredita que vacinas causam autismo não torna o seu equívoco
correto como uma opinião valida. Nem o fato de que muitas outras
pessoas acreditam nisso.
Para
parafrasear John Oliver, que referenciou uma pesquisa onde mostra que
1 em 4 americanos acreditam que o aquecimento global não é real, em
seu show Last Week Tonight: Quem se importa? Você não precisa da
opinião das pessoas em um fato. Você pode ter uma pesquisa
perguntando: “qual número é maior, 15 ou 5?” ou “corujas
existem?” ou “aquilo são chapéus?"
Você
viu a mesma coisa recentemente quando perguntas sobre a bandeira
confederada começaram a voltar. Pode até ser a sua opinião que a
escravidão não foi a causa para a Guerra Civil, mas os artigos da
secessão de Texas mencionam a escravidão 21 vezes (os direitos são
mencionados apenas seis vezes, e apenas uma vez em uma sentença que
não menciona nem a escravidão e nem como as pessoas brancas são
melhores que os negros). Eu preciso lembrar que existem pessoas que
acreditam que o Holocausto foi falso, e que a opinião deles
significa absolutamente nada para a realidade?
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Pessoas que foram mortas independentemente da opinião de algumas pessoas sobre o assunto. (The Auschwitz Album) |
E
sim, às vezes dados científicos e históricos estão errados, não
são claros ou precisam de melhores explicações. Todo mundo sabe
que a água expande quando congela. Você sabe por que a água faz
isso quando nenhum outro elemento expande quando congelado? Não, e a
ciência também não sabe. Aqui vai uma pergunta: qual é a herança
racial dos egípcios antigos? Porque historiadores não conseguem
chegar a um consenso e a arte deles é muito estilizada para ser
julgada precisamente.
Assuntos
como esses são o tipo de coisa em que está tudo bem formar uma
opinião. A água expande quando congela por causa da forma das
moléculas. Os egípcios eram uma sub-raça africana que se instalou
no Nilo. Aqui a opinião pode ter um espaço reservado para se ter um
maior entendimento, assumindo que não tenha um melhor entendimento.
Não tem nenhuma prova; só se pode adivinhar. De uma forma educada,
espera-se.
É
aqui que a segunda pergunta entra: a sua opinião é bem formada e
por que você acredita nela? Apesar de que, tecnicamente, essas
opiniões não podem estar erradas, elas podem não ser válidas
porque não são formadas com estrutura.
Um
exemplo: digamos que eu vá conhecer um sujeito que é fã de Doctor
Who, e o Doutor favorito desse fã é David Tennant. Nada de errado
até agora. Entretanto, conforme conversamos sobre esse assunto, esse
fã me diz que ele ou ela nunca viu as temporadas anteriores à 2005
ou nunca ouviu o show de rádio. Agora, é possível que ele ou ela
ainda tenha como favorito David Tennant, mas também é possível que
seja Tom Baker ou Paul McGann ou algum outro.
Em
um mundo perfeito, alguém confrontado com isso poderia simplesmente
dizer “bem, David Tennant é o meu favorito que eu vi até agora”.
Existem várias razões de não ter visto nenhum episódio mais
antigo de Doctor Who. Nem todos os episódios estão no Netflix ou
são fáceis de achar, tem um monte de episódios, os shows de rádio
podem ser caros, etc. Ter uma opinião restrita de uma fonte de
informação restrita é natural.
O
que estraga tudo é quando acredita-se que uma opinião restrita é
muito mais ampla do que realmente é. Tem uma diferença entre uma
crença e as coisas que você simplesmente não sabe. É fácil de
acreditar, por exemplo, que pessoas brancas enfrentam tanta
discriminação quanto as pessoas de cor, mas apenas se você for
completamente ignorante em relação ao número de negros
desempregados em relação aos brancos; ou o fato de que dos Fortune
500 CEOs, apenas cinco são negros; ou do fato que de 43 homens que
foram presidentes 42.5 deles foram brancos. Em outras palavras, você
pode formar uma opinião numa bolha e pelas primeiras décadas das
nossas vidas nos todos formamos. Mas, eventualmente você vai se
aventurar pelo mundo e descobrir que o que você pensou ser uma
opinião bem formada era, na verdade, apenas um pequeno pensamento
baseado em poucos dados e nos seus sentimentos. Muitas, muitas,
muitas das suas opiniões vão se tornar desinformadas ou
simplesmente erradas. Não, o fato de que você acredita nelas não
as torna válidas ou importantes e ninguém deve a seu ponto de vista
qualquer respeito simplesmente porque é seu.
Você
pode estar errado ou ser ignorante. Irá acontecer. A realidade não
se importa com seus sentimentos. Educação não existe para te
perseguir. Os desinformados não são uma minoria sendo oprimida. O
que é isso? O planejamento familiar está decepando bebês mortos e
vendendo por dinheiro? Não, não foi isso que aconteceu de verdade.
Não, não é sua opinião. Você só está errado.
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É, claro, desconstruir uma crença ou uma opinião pode ser muito difícil e exigir muita força interna e pensamento. É importante que você tenha paciência e tente ter empatia e tentar entender o passado de alguém.
Uma boa educação é um ataque profundo em uma crença e deveria ser. O problema, da forma como eu vejo que o autor declara na matéria, é que as pessoas mantem as suas crenças com tanta força e de forma muito pessoal. Eu tento, com muita dificuldade, ficar feliz em deixar pensamentos velhos irem embora quando provada que estou errada, mas é muito difícil.
Obrigada pela atenção e boa noite. :)